Efeitos de bebidas esportivas são questionados em artigos científicos
JULIANA VINES
DE SÃO PAULO
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1146686-efeitos-de-bebidas-esportivas-sao-questionados-em-artigos-cientificos.shtml
DE SÃO PAULO
Uma série de artigos publicada na revista científica "British Medical
Journal" questiona a necessidade de ingerir bebidas como Gatorade e
Powerade durante exercícios físicos. A bomba dividiu especialistas e
causou reações na indústria.
'Há evidências científicas dos benefícios de isotônicos', diz fabricante
'Necessidade de tomar muito líquido é mito novo', diz nefrologista
'Necessidade de tomar muito líquido é mito novo', diz nefrologista
Com o título "The Truth About Sports Drinks" (a verdade sobre bebidas
esportivas), um dos textos afirma que "a ciência da hidratação" é uma
criação da indústria e que as principais pesquisas que embasaram o
consumo de isotônicos nas últimas décadas foram pagas pelas próprias
fabricantes.
"As pessoas são bombardeadas com mensagens sobre o que deveriam beber
durante o exercício. Mas esses dogmas são novos", diz o artigo, escrito
pela editora de pesquisas da revista, Deborah Cohen, médica. "A
indústria patrocinou cientistas, que aconselharam organizações
esportivas, que elaboraram diretrizes [...] e espalharam os perigos da
desidratação", continua o texto.
O "British Medical Journal" analisou 170 pesquisas durante quatro meses.
"Não são estudos de boa qualidade. Quando a pesquisa é financiada, é
preciso estar ciente de que resultados negativos não são publicados",
disse Cohen à Folha.
Em resposta, a Associação Americana de Bebidas divulgou um comunicado
argumentando que o patrocínio não invalida o mérito científico dos
estudos.
Já o Colégio Americano de Medicina do Esporte, que tem diretrizes de
hidratação seguidas pelo mundo todo, afirmou que vai analisar melhor as
provas científicas no futuro.
Bebidas isotônicas são feitas de água, sais minerais e carboidratos.
Criadas na década de 1960, puxam um mercado mundial que só cresce.
O Brasil bebeu 75,4 mil litros desses produtos em 2011: um crescimento
de 29% em relação a 2009 e de 9% em relação a 2010, segundo a Associação
Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas.
SEM DIFERENÇA
Há pouco consenso na "ciência da hidratação". Uma parte dos
especialistas diz que as bebidas esportivas são absorvidas mais
rapidamente do que a água pelo organismo --graças à fórmula que mescla
carboidratos e minerais imitando as concentrações presentes no sangue.
Para outra parte, não há diferença ou é até pior."A absorção demora
quase a mesma coisa", diz Mirtes Stancanelli, nutricionista do esporte e
pesquisadora da Unicamp. Para Debora Cohen, isso "não faz muita
diferença".
Numa coisa todos concordam: o consumo de isotônico é indicado durante a
prática esportiva ou depois --não a qualquer hora e a qualquer um. "Não
substitui a água", afirma Heloisa Guarita, presidente da Associação
Brasileira de Nutrição Esportiva.
A bebida tem a metade das calorias de um refrigerante e quantidades
significativas de sódio. Por isso, deve ser evitada por quem tem
hipertensão, segundo Arnaldo José Hernandez, chefe do grupo de medicina
do esporte do Hospital das Clínicas de SP.
Durante a atividade física, o isotônico pode ser bom se houver perda de
minerais por meio do suor ou se for preciso repor carboidratos. Aí é
fonte de energia e pode melhorar o desempenho. Mas muitos dizem que, na
maioria dos casos, água e alimentação certa dão conta.
"Às vezes é necessário, como em provas de 'iron man' que duram horas",
diz Jomar Souza, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do
Exercício e do Esporte. Mas, para a academia de todo dia, não. "O
consumo é indicado a partir de uma hora de exercício com sudorese
intensa."
Para o educador físico João Bouzas Marins, professor da Universidade
Federal de Viçosa, a ideia de repor minerais perdidos no suor é exagero.
"Consumimos muito sódio na dieta. A probabilidade de dar problema por
falta de sódio é mínima."
Mas Marins reconhece que o carboidrato presente na bebida é útil para
dar energia a partir de uma hora de exercício. "Em atividades longas
existe risco de hipoglicemia."
QUANTO BEBER
A falta de consenso científico atinge também a ingestão de água durante a atividade física.
"Há risco de desidratação, mas também há risco de hiper-hidratação,
quando há a diluição exagerada dos minerais do corpo", diz Souza.
Por conta disso, alguns defendem a ingestão do líquido apenas quando se
está com sede. "Se não há sede, não há necessidade de beber. Não parece
lógico para um sistema testado exaustivamente na natureza?", questiona
Luiz Oswaldo Rodrigues, fisiologista do esporte da Universidade Federal
de Minas Gerais.
Já os adeptos da hidratação preventiva argumentam que a sede é indício
de desidratação, ainda que leve. "Perdemos água o tempo todo e não temos
um reservatório. Isso é potencializado no exercício. É importante se
hidratar antes da sede", defende Heloisa Guarita.
A recomendação da nutricionista é beber até 250 ml 20 minutos antes da
atividade física e, em média, 250 ml a cada 20 minutos de prática.
Já para Turíbio Leite de Barros, fisiologista do exercício da Unifesp, o
ideal é ingerir o que é perdido. Isso pode ser calculado se o
praticante se pesar antes e depois do exercício. "A taxa de sudorese
varia muito de pessoa para pessoa. Se ela perde, em média, um quilo,
pode dividir a ingestão de um litro de água durante a prática do
exercício."
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1146686-efeitos-de-bebidas-esportivas-sao-questionados-em-artigos-cientificos.shtml
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