Leveza inteligente
Quais as intervenções certas para diminuir o peso da bicicleta e melhorar o seu desempenho.
Por Tadeu Matsunaga
Um quesito essencial no
ciclismo é a leveza do conjunto homem/bicicleta. De modo geral, a
melhora do rendimento está diretamente ligada à redução de peso do
equipamento — mas sem se esquecer de quem está em cima dele, claro,
porque tudo flui junto. É verdade que outros fatores também influenciam
no equilíbrio do conjunto, como a rigidez e a confiabilidade do
equipamento e, principalmente, a potência das pernas. Dificilmente um
fator funciona bem sem o outro. Mas as vantagens de um acessório leve (e
eficiente) são consideráveis para qualquer nível de atleta — e estão
condicionadas apenas ao bolso e ao bom-senso de quem o procura.
Nem
sempre duas bikes com o mesmo peso têm as mesmas virtudes competitivas.
Por isso, acertar na escolha do equipamento mais leve significa
valorizar o seu dinheiro e aumentar o seu desempenho. É preciso ter em
conta que as peças mais leves — e mais caras — trazem, em geral,
tecnologias mais avançadas, o que amplia o benefício, além da redução do
peso propriamente dita.
Por onde começar essa, digamos,
intervenção cirúrgica? É consenso que o primeiro upgrade para aliviar
uma bicicleta deve ser feito nas rodas, incluindo os pneus. Em geral,
todos os acessórios que “giram” na bicicleta apresentam um ganho maior
do que os estáticos, quando mais leves. “O peso economizado nas rodas
torna a bike mais fácil de acelerar e frear. Se você tiver de optar
entre ter rodas boas e quadro intermediário ou vice-versa, prefira ter
sempre rodas boas e abra mão de um quadro bom com rodas ‘pé de chumbo’”,
aconselha Fernando Araújo, da 3A Distribuidora. Por sua vez, Hebert
Polizio, da Fast Runner, lembra que há um equilíbrio a ser seguido ao se
planejar um upgrade. Na sequência das rodas, o quadro e a pedivela são
itens que devem ser priorizados.
Por que as rodas
Como
existe movimento rotacional envolvido, o peso aliviado na roda não só
deixa a bike mais leve como atua na eficiência das pedaladas. Isso vale
principalmente se a maior porcentagem subtraída estiver concentrada nos
aros, onde se aplica a seguinte regra: quanto maior a massa, maior a
dificuldade em alterar a velocidade. Rodas com aros mais leves facilitam
a aceleração e a manutenção do movimento em subidas.
Onde investir
Incontestável.
A roda é o primeiro e melhor investimento para quem busca um upgrade.
Isso se reflete na sensação que se tem sobre a bicicleta e no seu
deslocamento, com maior velocidade e constância. A troca de um modelo de
entrada — que, em média, pesa 1,9 quilo o par — por uma roda top pode
valer um ganho considerável de peso. Substituindo, por exemplo, um
modelo de entrada por uma Fulcrum Racing 3, intermediária e que custa R$
2.200, o ganho de peso será de 260 gramas, podendo chegar a 400,
trocando também o pneu.
Mais barato: Comprar pneus mais leves é
uma maneira eficaz e barata de reforçar a leveza de uma bicicleta. Tendo
como base os modelos de entrada (Zaffiro II, com 310 gramas e R$ 100) e
top (Corsa Evo, com 210 gramas e R$ 270) da marca Vittoria, o
investimento trará um ganho de 100 gramas. Com o Corsa EVO, além da
diminuição de peso, soma-se eficiência ao giro. Já na câmara de ar é
possível reduzir até 50 gramas.
O mais caro: O problema aqui é a
relação custo-benefício. Os quadros têm uma variação de preço
considerável. Há uma diferença abrupta entre modelos de entrada (na
faixa dos R$ 4 mil), intermediários (R$ 10 mil, em média) e top de linha
(na casa dos R$ 20 mil). Além disso, a troca implica alterações no
conforto do ciclista, junto com o peso. Mas, se nada disso for problema,
para quem busca leveza o ganho médio gira em torno de 200 gramas do
básico para o intermediário, e em mais 200 gramas do médio para um top.
O
mais complicado: Tirar peso da pedivela é uma tarefa árdua, já que
obsessão pela leveza pode se refletir no desgaste e, consequentemente,
na perda de resistência da pedivela, prejudicando a eficiência da
pedalada. Atualmente, alguns fabricantes produzem suas próprias
pedivelas para facilitar o ajuste peso/rigidez. Empresas como Look,
Cannondale e Specialized apostam nessa fórmula.
Periféricos:
Guidão e selim são componentes com menos influência no peso da
bicicleta. Mas também permitem conquistar alguns gramas. Um guidão de
alumínio pode ser mais leve que um de carbono, já que não é regra geral o
carbono ter menos peso. A vantagem do carbono fica na absorção do
impacto, que minimiza a interferência das imperfeições da pista. Já a
opção por um selim top, com fibras de carbono, é mais uma questão de
conforto que de alívio de peso. Logo, a leveza nem sempre é a equação
mais relevante. Ganho de no máximo 100 gramas.
Só para
fissurados: Considere o titânio apenas se você realmente quer ir para o
máximo em peças leves. Blocagem e parafusos envolvem muito mais o
fetiche e o fato de não ter mais onde realizar upgrades do que o
resultado propriamente dito. O ganho gira em torno de 40 gramas, apenas.
Uma blocagem básica de alumínio custa na faixa de R$ 28, enquanto uma
de titânio custa cerca de dez vezes mais. Ou seja, o peso diminuiu de
forma quase irrelevante, enquanto o preço dispara.
(Matéria publicada na edição 76, janeiro de 2012, da VO2)
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